terça-feira, 7 de novembro de 2017

Sobre fins e recomeços e mudanças e afins

Já faz mais de um ano que estou separada, quase dois anos na real. Quem me conhece no mundo real ou acompanhou por aqui (ou aqui) conhece um pouco da história. Em resumo: conheci meu ex em 2004 e vivemos juntos até 2015, tivemos um filho (que hoje tem 7 anos), construímos casa e carreiras juntos. Muito amor envolvido, tínhamos muito em comum e fizemos grandes coisas juntos. Teodoro é o fruto mais belo e bem acabado disso tudo.

E um dia ele chegou em casa e disse que ia embora.

Daquele sábado normal de novembro de 2015 até agora muitas coisas se passaram. Minha vida teve que mudar radicalmente de rumo, meus planos que eram sempre no plural (eu + ele) passaram a contar apenas com a minha soberana vontade.

Isso é necessariamente ruim? Não, não mesmo. Mas é doloroso quando é forçado.

Uma das questões que mais me intrigam até agora é que, quase dois anos se passaram e muitas pessoas (muitas mesmo) seguem me indagando e comentando coisas do tipo:

- Não tem chance de vocês voltarem? (e suas variações...)
- Mas que coisa horrível! Vocês eram ótimos juntos, uma hora se acertam.
- Ele é pai do teu filho né? Então sempre fica alguma coisa...
- Tu ainda sente falta dele?
- O que tu aprontou?

Minhas respostas vão de grunidos, passando por "ah tá!" de desprezo chegando a grandes debates. Tudo depende de quem pergunta.

Explico:

- Não tem chance de vocês voltarem? (e suas variações...)
Afinal, o estado normal é estar junto, não interessa saber por que acabou, se tem alguém ferido ou coisa que o valha.
- Mas que coisa horrível! Vocês eram ótimos juntos, uma hora se acertam.
Aqui esconde-se a ideia de que alguém cometeu um erro e logo será perdoado e as coisas voltarão para o normal (normal = juntos de novo)
- Ele é pai do teu filho né? Então sempre fica alguma coisa...
A relação entre marido e mulher, pai e mãe mais uma vez sendo misturada e jogada junto com a criança na água do banho. Se ele é pai do meu filho, eu tenho que automaticamente perdoar/entender/compreender/satisfazer/amar e etc... e, portanto, buscar a volta à normalidade (normal = juntos)
- Tu ainda sente falta dele?
Essa sempre vem quando o interlocutor ou interlocutora "descobrem" que eu não tenho namorado. Se eu não substitui rapidamente a peça que me falta, é por que a antiga me faz falta. Sou um ser incompleto sem um homem por perto. [*olhos revirando ao infinito*]
- O que tu aprontou?
Essa parte de pessoas que nos conheciam, e logo, por saberem de nossas diferenças de personalidade (nossa! que novidade!), basicamente, eu a extrovertida, mandona e questionadora e ele o gentil, educado e sábio, deduzem logicamente, que EU fiz alguma coisa que desagradou o santo homem. Aqui temos pitadas de um machismo universal e cansativo também.

Mas percebam: DOIS ANOS depois e as pessoas seguem uma única lógica: eu não posso viver sem marido.

Não penso nisso muitas vezes, mas toda vez que tenho que responder essas e outras questões correlatas essa reflexão se faz em mim... E como tudo que penso gosto de escrever, uso esse meu diário online pra pensar.

A primeira coisa que penso é: porque essas indagações me incomodam tanto? Se já faz tanto tempo e tudo está onde deveria estar, por que me incomoda?

Se tem uma vantagem que o decorrer do tempo tem é nos dar a distância necessária para refletir sobre algumas coisas. Pra mim, hoje está muito nítido que boa parte do meu sofrimento se deu pela forma desrespeitosa como o final do meu relacionamento se deu. Não houve agressão física, talvez tenha havido uma traição (mas tô cagando pra isso), mas a violência envolvida foi a psicológica. A mais dolorida e extensa de todas.

Então cada vez que alguém pergunta sobre o fim do relacionamento insinuando que de alguma forma eu pretendo, no mais profundo do meu ser, que ele seja retomado, revivo aquele fim.

Vou tentar explicar.

Meu ex-marido deixou de me amar. Era (e é) um direito que ele e todos os seres humanos nessa terra têm. Várias coisas no nosso relacionamento (soube eu depois...) estavam incomodando e minaram o sentimento, a ponto inclusive dele se interessar por outra pessoa.

Ok, difícil. Bem ruim mesmo. mas vemos violência nessa descrição?!

Não, no máximo, sofrimento de um amor acabado.

Acabando aqui, eu ficaria numa deprê fudida, choraria os mesmos galões que chorei e logo poderia seguir em frente. E muito provavelmente, as perguntinhas elencadas acima não me afetariam de forma alguma, nem sequer fariam pensar.

Mas, não. Não acabou aqui.

Meu ex-marido deixou de me mar e fez questão de me culpar. Desqualificou mais de uma década de convivência. Me descreveu como um ser humano egoísta, fútil e interesseiro. Menosprezou minha carreira, minha dedicação a maternidade, meu corpo, a forma como eu faço sexo.

Usou tudo que sabia de mim pra me convencer de que o fato dele ter se desinteressado, se apaixonado por outra pessoa, cansado e etc... tinha relação direta com meu esforço sobre-humano para fazer da vida dele um inferno por mais de uma década.

Aqui eu sucumbi. E é aqui que as perguntinhas que insistem que eu devo voltar, ou que o certo é voltar pra isso aqui me deixam triste, indignada e revoltada.

Na primeira fase, transitei entre o acreditar e pedir perdão (afinal, ele sempre foi referência em gentileza e justiça, devia ter algo de razão naquilo tudo), e o pensamento desolador de que eu não conhecia aquela criatura que despejava todo aquele lixo sobre mim (afinal, ser arrastado por uma mulher terrível por mais de uma década não combinava com quem eu conhecia).

Fiquei mais de uma semana apenas reagindo ao mundo ao redor. Nesse tempo, ele apresentou uma amiga para o Teodoro (no primeiro final de semana de visitas) e todos ao redor me dizendo: "Ah olha aí! Sabia que tinha outra mulher envolvida!"

E eu só pensava: E daí????? Olhem pra mim, olhem pra issoooooo???!!!!

Não me importava se ele casaria na próxima semana, ou já estava casado na semana anterior. Meu interesse, fator de stress, de dor e sofrimento mais agudo era pensar: quem eu me tornei?? Eu não sei amar??? Como eu destruí, sendo egoísta, fútil e maquiavélica as coisas que mais amava no mundo??

Que tipo de sociopata me tornei por amor?? A casa onde morávamos, o filho que tivemos, que eu sonhei, planejei, batalhei pra ser lindo, pra ser amor, na verdade era produto de uma mente doente?????

E no meio desse looping, eu ainda tinha que responder para as pessoas sobre o novo relacionamento dele??? Vão a merda!!! Perguntem pra ele!!

Nesse momento eu tinha um par de olhinhos brilhantes me acompanhando. Teodoro fez poucas perguntas sobre a separação, ele quis saber se ia precisar sair de casa e se o papai traria ele de volta pra casa. Eu precisava dar conta disso.

A fase dois foi de pacificação, olhei para meu filhote e encontrei a resposta. Ele segurava na minha mão e me olhava com um amor profundo e límpido. Confiava em mim de um jeito puro.

Definitivamente eu não era um ser desprezível.

E no meio de tudo eu precisei me reencontrar, fazer as pazes com a minha história e entender o outro. Nesse momento entendi que ele optou pelo caminho mais seguro emocionalmente pra ele mesmo, atacou para se defender. Encarar as próprias falhas exige maturidade e generosidade num relacionamento que poucas pessoas são capazes. Eu mesma levei um tempo para entender as minhas, e uma delas foi a super expectativa que eu criei para o nosso relacionamento.

Em várias camadas de mim, foi crescendo a certeza de que não provoquei toda aquela violência. Meus erros não justificaram nenhum daqueles ataques a minha autoestima e ao meu caráter.

Levei um certo tempo pra entender tudo.

E se querem saber, não perdoei e acho que tenho esse direito. Posso entender, posso aceitar e devo viver com a escolha dele pro resto da vida, mas não sou obrigada a perdoar. Conscientemente ou não, ele escolheu me ferir para se proteger, usou tudo aquilo que uma vez criticou (inclusive o privilégio masculino) para sair do relacionamento "ileso". Isso não foi justo, nem comigo, nem com a nossa história. E isso não tem perdão.

Convivemos muito bem, dentro do necessário para manter o Teodoro seguro. É isso que importa.

Hoje vivo a fase cruzeiro. Fiquei apenas com aquele pesar de um amor acabado, de planos frustrados e só. Estou mais segura, entendi as minhas fortalezas e fraquezas. Reforcei uma crença antiga de que ninguém é perfeito e não perdi a fé no amor.

Isso quer dizer que estou a procura de um novo amor???? NÃO!

Mas, com certeza, sou um ser humano capaz de me entregar novamente a um grande amor.

A violência que sofri não vai me paralisar. Sigo acreditando que somos capazes de amar com olho no olho e respeito, e mais do que nunca sei o quanto o amor e um relacionamento são construídos para serem fortes, mas podem ser frágeis.

Então, quando me encontrar na rua me pergunta sobre meus projetos, elogia meu cabelo e minha disposição. Meu filho tem um pai ótimo, e meu ex-marido tá no lugar onde deveria ficar: no passado.

BJS!!!

7 comentários:

  1. Não sei mais o que dizer além de...pow pow pow! Tu é muito maravilhosaaa! QUE MULHER,QUE MULHER!

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  2. Ufaaaaa amiga...foi um turbilhão, que te levou por vários lugares, e quando tudo passou, te deixou fortalecida, resiliente e pronta para o que der e vier. Que a vida te leve para caminhos com novos amores, novos desafios, novas experiências. Amo tu💝

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  3. Sherol, tu és do caramba!Muito, mas muito do caramba!!!

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  4. Já tinha lido quando foi escrito....hj me deu vontade de reler justamente a parte em que tu fala, das justificativas machistas dele e teu sentimento de culpa. A melhor parte ainda é se fortalecer nos olhinhos brilhantes do filho.
    Me identifico. Me representa. Tudo passa.😊

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