sexta-feira, 27 de agosto de 2021

Heartbreak Anniversary - Mais uma de fossa.

Dessa vez não farei playlist.

Mentira 😂😂 Farei sim. Tudo tem trilha sonora.

Hoje faz exatamente 1 ano do fim de um namoro de 2 anos (um pouco menos segundo a PM, vulgo, ex) que me fez feliz.

Toca aí Heartbreak Anniversary do Giveon bem alto pra sofrer com classe!!

Just like the day that I met you, the day I thought forever
Said that you love me, but that'll last for never
It's cold outside like when you walked out my life
Why you walk out my life?

Sim, eu fiquei despedaçada, decepcionada, triste e rejeitada, porém orgulhosa de mim.

Eu, depois de tantas feridas e cicatrizes, aprendi a ser completa, a não precisar de ninguém e me permiti querer alguém.

E eu sinceramente me orgulho disso.

Dá trabalho se enxergar como alguém completo na solteirice, num mundo que te cobra uma vida em par. Eu vivi um casamento de mais de 10 anos projetado para ser pra sempre, onde amadureci muito, cresci e floresci gerando o Teodoro e de repente aquele mundo acabou e precisei me reconstruir. E nesse processo de colar pedacinhos de sonhos eu achei que nunca mais seria capaz de me interessar por amar alguém.

Aí temos Fulminante!

Aí você vem, me deu proteção
Baixou minha guarda, mexeu com a emoção
Tiro fulminante no meu coração
Já era, já era

Como eu disse, eu andava bem solteira e bem feliz, finalmente experimentando a sensação de felicidade na solidão. 

Solteira, porém não sozinha. O dito (não vou nomear pra não ser processada hahahahah) cruzou meu caminho a primeira vez em 2016, precisamente numa das comemorações dos meus 36 anos. Rolou uma boa química e tudo, mas não passou disso. 

Em 2018, num rolê aleatório no viaduto batemos os olhos de novo. Como não sou de perder tempo catei o contato lá nas profundezas do whatsapp e mandei o famigerado "oi sumido".

E dessa vez a coisa deslanchou. Voltamos a nos ver em julho e em agosto já nos víamos umas 3 vezes por semana, em setembro ele conheceu o Téo. E pronto, pra mim já era namoro.

Tudo fluiu tão bem.😍

E percebi que tava realmente disposta a me envolver e deixar alguém entrar na minha vida quando ele fez merda e eu quis ficar ao lado dele, mesmo podendo simplesmente sair, dizer um lacônico e cínico "é complicado..." e fingir que ele não existia. Eu sentei do lado dele, chorei junto e pensei: "Tô contigo.".

Eu senti que devia baixar a guarda e me deixar levar.

O início oficial só veio depois de muita conversa, o que devo dizer é novidade pra mim. Conversar foi o grande aprendizado desse relacionamento, ele achou que falei pouco e me abri pouco, mal sabe ele a vitória que foi. Pela primeira vez me senti forte o suficiente para dizer algo sem medo de que a pessoa fosse embora. Eu não tinha mais medo de ficar "sozinha".

A diferença de idade foi a minha primeira insegurança (por que 13 anos não são 13 dias né), mas ele disse que não era problema, e mais que dizer, ele me fez acreditar que não era. Muitos diriam que ele fez o "mínimo", mas só quem não nasceu negra num país racista não valoriza esse suposto mínimo. Sentir "eu mereço ser bem tratada" é uma luta para alguém que passou a adolescência sendo preterida e depois foi ejetada do seu projeto família feliz.

E também é um processo bem intenso amar um homem negro num país que brutaliza esses homens diariamente. Deixar de lado os esteriótipos machistas e racistas e abraçar uma relação que compartilha essas feridas e ser capaz de construir afeto é revolução.

Tudo bem que sou meio ONG de macho, confesso!!! A Deia que me perdoe😁. Mas eu me entrego de um jeito que sim, dou meu CEP sem cobrar aluguel, divido a comida, leio e corrijo trabalho de faculdade e indico vaga de emprego.

Mas também não entrego a toa. Eu tive o que precisava: carinho, parceria, bom papo, sexo e intimidade.

É gente, deixei o Cazuza com inveja, por que sim, eu tive a sorte de um amor tranquilo. Tive a coragem de me deixar levar por algo sólido e intenso, deixei que alguém me visse. E ele me viu e decidiu ficar. Eu amei cada detalhe dessa entrega, e busquei reabrir meu coração ferido.

Eu conheci alguém que me via, ouvia e sentia, mas não fui capaz de fazer o mesmo. Ou melhor, fiz mas fiz com medo, dizem que gato escaldado tem medo de água fria né?
Mas ok. Nunca é tarde. Me desafiei a enfrentar esse medo, e pela primeira vez em décadas falei sobre ter medo de não dar conta, de não saber como segurar a grandeza de um amor tranquilo. E descobri que falar é difícil, mas superar um medo é muito mais.

Enquanto isso ele me via, ouvia e sentia. E puta merda, como faz(ia) isso bem! Que sorte a minha! O problema é que esse poder de me olhar, fez ele enxergar as minhas zonas mais densas, e daí permanecer não foi mais possível. É mar desaguando no rio, violentando o rio, tirando o seu curso.

E assim ele foi.

Li essa semana um texto no Instagram da revista TPM que resume bem: uma mulher sobrecarregada é insuportável. E eu estava realmente exausta em 2020, até já contei por aqui...

Em maio ele começou a me deixar, só hoje sei disso. Foi quando ele decidiu que não valia a pena segurar minha mão na escuridão. Ele levou alguns meses pra organizar onde morar, um emprego melhor e partir. Foi ruim pra mim perceber isso porque minha primeira reação a essa constatação foi confirmar de que só posso ser amada se eu for "útil". Levei tempo pra remover esse pensamento da minha cabeça. Ainda é uma sombra sobre mim, confesso. Mas eu acendi a luz e posso encará-la de frente agora.

Em agosto, depois de passarmos um mês de julho bem cansativo com obra no meu apê, ele me mandou uma mensagem dizendo "não dá mais". Fiquei até tonta. Demorei pra entender que o cara da conversa estava terminando um relacionamento por mensagem. Uma vez reli a conversa e percebi que nem respondi direito as coisas. Perdi o chão.

Entre os argumentos dele estava o fato de que eu não "me abria", "não fazia questão" e etc. E eu só pensava: "porra! 2 anos depois essa conversa??!!". Aos poucos fui entendendo de que ele se sentia inseguro com a minha segurança. Ele até usou uma parábola pra explicar (por mensagem... acreditem...)



É muito ruim se sentir "foda demais" para alguém quando só se quer ser especial, única, amada, frágil e vulnerável. Eu tô cansada de ser a guerreira que dá conta de tudo de quem se exige tudo e a perfeição. Eu só quero colo, aconchego e dengo.

Hoje não sinto mais falta dele, demorou, mas consegui passar dessa fase. Sinto saudade muitas vezes.

Eu realmente me acostumei com a presença diária e apreciei a intimidade. Ter sido a pessoa que fica no mesmo cenário tem essa dorzinha extra: eu sinto falta dele quando a porta do guarda-roupa trava e penso "só o fulano que tem paciência pra fechar essa merda!", ou quando estou completando 4h ininterruptas na frente do PC e ninguém me chama pra deitar e beija meu pescoço, ou quando olho pro lado e ainda vejo um vão no meu quadro de medalhas da cabeceira exatamente onde ele ficava sentado na cama jogando xadrez no celular...

Ficou a saudade, mas o processo de superar também envolve reconhecer que sinto muito mais falta e saudade do que a pessoa representou, da possibilidade de amar e ser amada.

Eu botei fé na possibilidade de ter um amor tranquilo.

Mas é possível uma pessoa preta ter um amor tranquilo? Um relacionamento mobiliza coisas muito profundas numa mulher negra, no meu caso, são décadas de rejeição, de preterimento, de insegurança, de gente duvidando da tua capacidade, questionando a tua beleza e isso é muito difícil de lidar. Talvez isso explique por que ele tão rapidamente arranjou uma branca pra ele. (e ser trocada por uma mulher branca aciona muitos desses gatilhos, é um deja vu eterno)

Nesse processo eu passo a questionar não a escolha do outro, mas fico buscando a "minha culpa". E isso é muito injusto comigo, por que nesse caso específico, eu tava vindo de um momento muito turbulento da minha vida em que eu já tinha decidido que não ia me envolver com mais ninguém, e decidi conscientemente dar uma chance pra aquilo que tava sendo tão bom pra mim, que tava sendo tranquilo. Ciente de que não era uma necessidade, era só um querer.

Mas eu quis. Por que eu quis? Por que eu quis tão pouco? E, porque eu entreguei tanto? Eu tava lá pra ele nos momentos mais malucos da vida dele (até no projeto largarei tudo e serei massoterapeuta), e daí quando ele conseguiu caminhar com as próprias perninhas (ah, agora eu vou morar sozinho, agora tô com um emprego bacana) eu deixo de ser boa companhia?

Esses pensamentos são válidos, porém injustos comigo. Eles derivam de um processo de autoculpa que estou buscando controlar. Eu não estava no meu melhor momento, eu estava realmente sofrendo, 2020 foi muito ruim pra mim em muitos sentidos, todos os meus medos e minhas inseguranças vieram a tona, e ao invés de eu pensar "bah, que filhadaputisse! Me largou no meu pior momento!" eu fico me culpando por estar nesse momento. É muito enlouquecedor.

Aqui, pausa para a trilha.

Entra o Luiz Lins com A música mais triste do ano

Amor, quando o nosso vinho amargar ou perder o sabor
Quando a maquiagem borrar e as fotos perderem a cor
Tu ainda vai querer me aquecer quando não me restar nem calor?
[...]
Ainda vai sorrir quando eu for teu único motivo?
Ainda vai ouvir o que eu digo, mesmo quando eu só quiser falar de amor?
Ainda vai tentar me entender quando eu não fizer mais sentido?
E ficar comigo quando tiver visto o pior lado de quem eu sou?

E a resposta dele foi: NÃO. Pra todas as perguntas.

E doeu. E foi preciso lidar com a consequência da rejeição. Algo bem difícil e doloroso. Passa por se sentir insuficiente até suficiente demais. Mas no fim é apenas sobre respeitar a escolha do outro. E eu tenho que me lembrar de como EU processo isso, eu não tenho controle sobre o outro.

Então, mais uma vez, estar escrevendo sobre isso é terapêutico para mim, pra abrir as minhas veias e mostrar pra mim também e para possíveis leitoras de que uma mulher foda pode ser frágil, e que ser frágil faz parte.

E principalmente que as coisas podem ser boas por um tempo e deixarem de ser boas. E tudo bem.

As pessoas vão tomar escolhas que tu não vai concordar, tomar escolhas que tu não vai aceitar, e tu vai sofrer com aquela consequência, mas ainda assim isso não é tua "culpa".

Essa "meritocracia emocional" de "eu não merecia ser tratada desse jeito" é só mais uma bobagem desse mundo capitalista doente. Relacionar-se é uma via de mão dupla, sem perde e ganha. É dinâmico e é um aprendizado. Pra mim o que fica é que ele teve mais coragem do que eu jamais tive em nenhum relacionamento (até por que fugi sempre que pude). No momento em que ele teve tudo que precisava do relacionamento e acreditava que não podia ter mais ele pulou do barco. E eu estou dizendo justamente isso por que essa foi a metáfora que ele mesmo usou numa das intermináveis conversas por mensagem.

Ele se sentia como se eu nunca dividisse o leme do barco com ele. Pois é... só tem um porém: eu não tenho só um barco, eu tenho um iate. Eu tenho um navio de luxo e posso proporcionar lindas viagens para as pessoas que quiserem aproveitar, e que realmente não está "equipado" para quem quer pular e nadar.

E o fato de ter um iate luxuosíssimo e muito equipado leva a próxima questão: eu não preciso de ninguém pra remar comigo nesse barco, o meu barco já anda sozinho.

Eu quis alguém pra compartilhar esse iate? Quis.

Eu fiz o que eu achei necessário pra dar conforto para essa pessoa no meu iate? Sim.

Compartilhei coisas importantes? Segurei na mão da pessoa quando o barco balançou e ela segurou na minha? Sim e sim.

Mas, mesmo assim a pessoa quer nadar e eu preciso entender. Eu preciso entender justamente isso: que não é uma escolha minha e que não é um problema em mim, não é um problema meu. É difícil acomodar a ideia de que o meu iate não foi confortável o suficiente, mas é o jeito. Se a pessoa preferiu pular e ir pra uma canoinha padrão sem tensões raciais, sem grandes dilemas, apenas pra ficar boiando num pneu, bom, o que eu posso fazer?

Navegar num barquinho padrão de beleza "discreta" deve ser mais "emocionante" né? Afinal deve ser um alívio pra tensão racial, pois dá pra circular de "negro card" na CB naqueles rolês que servem drinks em potes e toca "eu quero botar meu bloco na rua" versão acústica e também um alívio para o ciúme, nada de ficar assistindo a namorada sambar seminua e brilhante por aí.

Eu estou feliz com isso tudo. De verdade. Aprendi muito com isso. Foi importante aprender que nem sempre as pessoas agem da forma como eu espero, nem sempre as relações acabam por faltas minhas, nem sempre a pessoa muda por uma atitude minha ou falta de atitude, nem tudo é sobre mim. Nem tudo está sob meu controle. E tudo bem.

Eu não vou me torturar. Eu fiz o que eu consegui, o que deu, o que de melhor eu podia fazer com as ferramentas que dispunha no momento. Lidar com a rejeição sem me culpar é a meta, e tô feliz com esse processo.

É sobre trocar a frase “Eu sou incrível, mas fulano não me quer” por “Eu sou incrível e fulano não me quer”. Parece apenas uma troca de palavras, mas é mais que isso. É sobre dizer: Ele não me quer e sigo sendo incrível.

Vou encerrar com um texto que uma amiga querida me mandou esses dias do Iandê Albuquerque. Um texto que me abraçou quentinho e reflete bem o lugar de que estou agora: num processo de ressignificar a minha vida emocional. A minha, só minha e todinha minha <3

eu queria te dizer algumas coisas que não tive coragem de dizer quando a gente acabou
queria te dizer que eu realmente gostaria que a gente tivesse junto
que tentássemos dar certo
mas eu sempre acho que tentar demais é teimosia
e o amor não merece isso
mas talvez eu esteja errado, não sei
fiquei puto pelas coisas que você fez
por um tempo guardei mágoa
mas eu tô aqui para te dizer que a gente deu certo sim
em algum momento a gente deu certo
e foi lindo
as memórias que escolhi guardar de vocês são boas
e espero que você guarde boas lembranças de mim também
a verdade é que somos totalmente diferentes
e apesar de não conseguirmos harmonizar isso
esses dias eu pensei na gente e pensei com carinho
porque acho que merecemos isso
não importa o que se deu no final
não interessa se a gente não conseguiu manter uma despedida agradável
Pensei na gente pulando o carnaval, do show, daquele pôr do sol
da nossa primeira transa
de estarmos apaixonados e desejarmos conquistar o mundo com o nosso amor
foi curto, durou pouco
ou eu que esperava durar bem mais
mas foi intenso
e é sobre isso que eu escolhi observar
porque o tempo não dita a importância de um amor
o que significa é como a gente se entrega e vivencia ele
a gente se confundiu, se perdeu
deixou um outro ao outro se esvair pelas nossas mãos
mas somos pessoas incríveis sim
só não estávamos na mesma vibe, sabe?
o que você me deu talvez não era o que eu queria naquele momento
e o que eu tinha para te dar talvez não fosse o que você merecia
às vezes a vida tem disso, né
por mais que a gente sinta uma conexão gigante
por mais que a gente tenha vivido momentos incríveis juntos
em algum momento a gente se perde
acontece
aconteceu com a gente
e depois a gente aprende que até as coisas incríveis acabam
duram o necessário


depois a gente aprende que até as coisas incríveis acabam duram o necessário
Texto de Iandê Albuquerque do podcast Para todas as pessoas intensas

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