terça-feira, 31 de maio de 2011

O Senado, História e o silêncio dos Historiadores

Hoje acordei mais indignada do que nunca, ontem cheguei em casa feliz depois de quase duas horas de um basquete bem pegado, tomei um banho, dei uma mimada no meu filhote e tava quase indo pra cama quando surge na tela da TV a figura sempre intragável do excelentíssimo senador José Sarney tentando justificar a exclusão de um tal de "túnel do tempo" que existe nos corredores do Senado o impeachment do outro igualmente intragável Fernando Collor.

Pausa para náusea.

Como assim? Excluiu como? Porquê?

Ele mesmo nos "ilumina" com toda sua sapiência:

"Olha, eu não posso censurar os historiadores encarregados de fazer a história, talvez esse episódio seja apenas um acidente que não devia ter acontecido na história do Brasil"

Acidente????

Vejam, a História não é única. Nunca foi, nem será neutra, imparcial ou a verdade absoluta. Existem diferentes pontos de vista e análises possíveis sobre diferentes momentos da história mundial. Não sou a melhor pessoa pra explanar sobre isso, teoria e metodologia nunca foram meus fortes e poderíamos discutir esse assunto por milênios. Certamente, amanhã ou depois alguém mais gabaritado poderá ter argumentos melhores que os meus sobre isso. Meus argumentos são passionais, frutos de minha paixão pela carreira que abracei.

Classificar como acidente o talvez mais emblemático movimento de mobilização da sociedade brasileira é uma aberração histórica. Ele pode achar que é um acidente, pode até concordar com o Collor, achar ele um cara legal e convidá-lo pra jantar. O que ele não pode é negar esse passado. Mas entendamos a sua lógica: povo não foi feito pra se manifestar, povo é povo só pra votar nele. E só. Cada vez que o povo pensa é algo menor, sem importância. Afinal, quem sabe o que é bom para o povo é ele.

Pausa para mais uma náusea.

O que mais me preocupa nesse caso não é o uso que está sendo feito da História do Brasil, não é a primeira nem será a última vez que isso acontece, me preocupa o silêncio da minha pretensa categoria.

Para aqueles que não sabem Historiador não é uma profissão. Sério. Acreditem.

E porquê?

Não sei precisar.

Somos ótimos em produzir conhecimento histórico, temos ótimos historiadores, pesquisadores e centros de pesquisa de excelência. Mas somos incapazes de defender nosso próprio campo. E nessa falta de mobilização se proliferam "estudos históricos" sem método e informações ditas "históricas" replicadas aos borbotões pela web.

A regulamentação* vai resolver isso? Talvez não.

Isso pode? No momento em que os Historiadores consentem, pode.




O que li sobre o assunto:



*A regulamentação da profissão não significa a proibição da atividade por qualquer pessoa, garante vagas em concursos públicos e estabelece com mais clareza o papel do Historiador na avaliação e seleção de documentos para preservação, na organização de exposições, publicações, eventos, serviços de pesquisas, e ainda na elaboração de pareceres, relatórios, planos, projetos, laudos trabalhos sobre temas históricos. Sob meu ponto de vista seria a possibilidade de no mínimo averiguar autoria e responsabilidade sobre determinada exposição por exemplo.

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