Achar é o mais longe que podemos ir nesse universo repleto de segredos, sussurros, incompreensões, traumas, sombras, urgências, saudades, desordens emocionais, sentimentos velados, todas essas abstrações que não podemos tocar, pegar nem compreender com exatidão. Mas nos conforta achar que sabemos. (Martha Medeiros)
terça-feira, 28 de junho de 2011
Acessibilidade
Descobri esse termo quando fui trabalhar no MUHM e simpatizei de cara: acessibilidade = direito de acesso.
Durante a gravidez a simpatia aumentou e hoje me vejo vasculhando os lugares atrás de acessibilidade. Descobri o valor de um corrimão e de uma rampa ao carregar um barrigão!
Hoje, como faço diariamente, peguei o ônibus para ir trabalhar em Porto Alegre (moro em Canoas) e numa das paradas o cobrador saiu do seu banco e foi até a porta dianteira (local de embarque) auxiliar uma senhora, já bem velhinha e com uma muleta, a embarcar. Gentileza? Sim, com certeza. Mas não seria muito melhor e mais digno que ela pudesse embarcar sozinha??
Acessibilidade não é privilégio, é um direito.
Quando foi implantada a Integração Metropolitana no transporte de Canoas ocorreram diversos problemas e a orientação (aqui) era de que os usuários enviassem suas sugestões, críticas e reclamações para a Metroplan e para a prefeitura de Canoas. Bueno, como de praxe foi o que eu fiz.
Não vou transcrever aqui os e-mails, mas comecei reclamando dos horários e alteração do itinerário na linha Estância Velha - POA e aproveitei para reclamar da situação do carros, essa foi uma das fotos que anexei na primeira mensagem:
Reclamei de pagar R$ 2,95 para andar nessa charanga velha e a resposta foi a seguinte:
"Esse ônibus de prefixo 571 tem 17 anos é de 1994. Porém, nada impede de o mesmo circular se esteja em perfeitas condições de funcionamento. As fotos enviadas não demonstram nenhum problema aparente, os bancos da modalidade comum nesse caso não podem estar com os estofamentos rasgados ou com sua estrutura de fixação solta. Pelas fotos verificadas não estão com tal irregularidade, agora que o mesmo é um ônibus antigo isso podemos concordar, mas a empresa está gradualmente tentando renovar sua frota."
Vejam, um ônibus com 17 anos de estrada, barulhento, poluidor, desconfortável. Ruim para os passageiros e com certeza para o motorista, que deve estar surdo com o barulho e com a coluna em frangalhos por conta da suspensão de mais de uma década. Mas isso não é um problema.
Enfim... minha resposta foi a seguinte:
"Obrigada por tua resposta. Realmente parece que não há irregularidade no carro, há somente uma imoralidade, e como essa é subjetiva agradeço a tua compreensão e seguirei reivindicando meus direitos como usuária do transporte coletivo. É difícil de engolir que em Porto Alegre até as lotações sejam acessíveis e com ar condicionado e em Canoas sejamos "obrigados" a pagar tarifa semelhante e usar um serviço humilhante."
E então mencionei o que a minha vista é uma irregularidade: existe um decreto federal (5296/2004) que trata da Acessibilidade, o capítulo V chama-se "Acessibilidade aos serviços de transportes coletivos" que prevê uma série de normas. Não sou advogada, mas na minha leitura leiga foi possível notar que os ônibus devem ser acessíveis. Isso tudo em 2004. Em 2011 a VICASA não tem nenhum ônibus com elevador, nem sequer um com degraus mais baixos, que ajudariam e muito. Repito, não sou advogada. Mas não parece que tem algo errado aí?
Questionei a Metroplan e a resposta foi chocante:
"A Vicasa dispõe de apenas um ônibus com elevador na sua frota. Somente os ônibus fabricados a partir de 2009 já vem com elevador instalado. Um decreto estadual estabelece que a empresa que tenha em sua frota mais de 20 ônibus tem a obrigação legal de ter pelo menos um ônibus com elevador. Quando a empresa renovar sua frota vai estar conseqüentemente tendo mais veículos com elevador. Vou encaminhar seu email com essas observações para a empresa."
Hã?!!!
Entendi bem????!!!! Devemos aguardar um tempo "natural" de renovação da frota??????!!!!! Pagando R$ 2,95 de passagem????!!!
Para o mundo que eu quero descer!
Minhas principais dúvidas são: a Vicasa tem só 20 carros? Pode uma legislação estadual se sobrepor a uma legislação federal? Pode uma população com mobilidade reduzida esperar pra andar de ônibus? Bancos, lojas, e até prédios históricos tombados, que a princípio não poderiam sofrer nenhuma alteração, estão se adequando a legislação de acessibilidade: rampas, pisos táteis, braile. Do que isso adianta se a pessoa não pode chegar a estes locais?
Canoas é uma cidade que está se modernizando. Em vários aspectos. Na programação da Feira do Livro de Canoas deste ano estavam indicadas "rondas de acessibilidade". Não acompanhei, infelizmente. Mas até onde pude acompanhar as notícias, nada mencionou a situação do transporte coletivo. Quando toquei no assunto com o Secretário de Transportes e Mobilidade de Canoas na Ágora ele saiu de ladinho dizendo que Vicasa não é problema dele. A Metroplan também se esquivou.
É problema de quem então? DO USUÁRIO, ORA!! Quem mandou querer andar de ônibus!
Se você é idoso, quebrou a perna, está grávida, torceu o tornozelo, tem que carregar um bebê no colo ou é obeso FIQUE EM CASA OU COMPRE UM CARRO. Essa é a mensagem da Metroplan pra você.
Mais uma pergunta: porque a Vicasa é intocável?
quarta-feira, 22 de junho de 2011
Você sabe com quem está falando? Saiba a resposta!!!
O vídeo tem quase 10min mas vale a pena!!!
Quem sou eu pra achar que o único modo de fazer as coisas é como eu faço?
Quem sou eu pra achar que a única cor de pele adequada é a minha?
Quem sou eu pra achar que o único lugar bom pra nascer foi onde eu nasci?
Quem sou eu pra achar que o único sotaque correto é o que eu uso?
Quem sou eu pra achar que a única religião certa é a que eu pratico?
Quem sou eu? Tu és o Vice-treco do sub-troço!
Palestrante: Mário Sérgio Cortella.
domingo, 19 de junho de 2011
Projeto ViDHas
Após alguns meses organizando a parada começamos a itinerar pelas escolas, nas últimas duas semanas estive em duas escolas: no dia 08/06 na Escola Vila Cruzeiro do Sul e no dia 16/06 na Escola Vitor de Brito.
Adorei ir nas duas escolas! A possibilidade de conversar com crianças e adolescentes sobre um tema tão duro como o preconceito racial de forma franca e aberta é realmente uma experiência incrível.
Na Escola Cruzeiro do Sul, uma das perguntas que mais gostei foi de um aluno que relatou que na rua dele tem uma "véia" que não gosta de negros, e que a criançada joga pedras na casa dela por isso. Antes mesmo de que eu começasse a discorrer sobre o "violência não leva a nada" um dos alunos saiu com essa: "Aí mesmo que ela não vai gostar de negros mesmo!". Vejam: não foi sequer necessário que eu falasse, somente a possibilidade de eles debaterem isso coletivamente já fez "brotar" uma solução.
Obviamente aproveitei a deixa pra conversar sobre isso com os alunos, falamos muito sobre como devemos nos portar diante do preconceito, das ofensas, da dor que sentimos quando somos desrespeitados. Aproveito sempre pra falar de "empatia", que temos sempre que ter em mente que não é o melhor caminho "a mesma moeda" e que pra sermos respeitados devemos ter respeito também. E a acolhida foi ótima.
Olha aê as carinhas das figuras!!!
Nessa escola pude utilizar o projetor, então acho que falei um pouco menos heheheheheh
Na verdade devo confessar: acho que quem mais se beneficia disso tudo sou eu mesmo. Pra mim é extremamente enriquecedor esse contato, a possibilidade de todo meu conhecimento e batalha poder servir de exemplo e possível rumo pra algumas cabeças é maravilhoso!!!
Saiba mais sobre a exposição:
O que é o projeto? Aqui.
Como surgiu? Aqui.
Agendamento de escolas: carrismemoria@gmail.com e 3289-2168
Blog do projeto: http://vidhasitinerancia.blogspot.com/
sábado, 18 de junho de 2011
Gabinete Digital: democracia em rede
domingo, 12 de junho de 2011
Esclarecendo uns pontos...
Rendeu o meu post anterior. Esse humilde blog ainda bebê recebeu umas 500 visitas que muito me orgulharam.. Por isso achei por bem fazer um post esclarecendo alguns pontos.
Na verdade vou esclarecer um só ponto, o meu ponto de vista.
Todas concordamos que foi uma piada desagrádavel. Mas eu continuo achando que foi só uma piada. (O que gostei mesmo foi de ver o debate que rendeu, hehehehe)
Sinto que acabamos chamando atenção demais para o que não era importante. A divulgação do mamaço por exemplo se ressentiu disso. Eu mesmo apesar de me considerarr uma "mami conectada" só soube da confirmação do mamaço de Porto Alegre em cima da hora. No twitter só se falava em CQC...
Enfim...
Antes quero agradecer a "ButecoFeminino" pela indicação do texto do Marcelo Rubens Paiva que gostei bastante e as gurias da Rede Mulher e Mãe.
Vamos aos fatos.
O que pretendo aqui é explicar o porquê que fiquei tão passada. Acho que sei o porquê: tenho "trauma" de "feministas". Assim com aspas para não desrespeitar a história grandiosa desse movimento.
Pra tentar explicar vou começar contando um episódio da minha biografia, por assim dizer.
Minha mãe se separou do meu pai em 1988, eu tinha 8 anos e minha irmã 5. Não ouve briga aparente. Nunca vi meus pais se agredirem. O amor acabou, e para eles isso já justificava a separação.
Minha mãe teve que ouvir da própria mãe que não a queria "desquitada". Uma vergonha.
Nessa ocasião minha mãe tinha passado num concurso público e trabalhava 500km distante das filhas (sim , tu não leu mal quinhentos quilômetros!! Só hoje consigo dimensionar a dor).
Ela engoliu a dor da separação e os olhares preconceituosos, a saudade das filhas, e manteve uma boa relação com meu pai. Ele seguiu morando conosco por anos. Eu só fui descobrir os detalhes "sórdidos" da separação já no final da adolescência. Pra nós foi simplesmente dito "o pai e a mãe agora não são mais namorados". O máximo de problema que essa história me causou na época era explicar aos colegas do colégio porque meu pai e minha mãe moravam juntos e não eram mais casados ;-) Seguimos, eu e minha irmã, numa infância dentro dos padrões, com pai e mãe sempre por perto.
Minha mãe é uma mulher de fibra. Lutou pelos direitos dela, exigiu sempre igualdade de tratamento e não se deixou abater, nunca deixou ninguém dizer a ela que não poderia fazer algo por ser mulher.
Minha mãe é então uma feminista? Sim, mas desconfio que ela nunca tenha gostado desse rótulo, ou até que nem tenha se visto dessa forma.
E eu peguei verdadeiro nojo dele.
Eu vi uma "verdadeira feminista" em ação.
E vi também minha mãe ter amigas que militavam no movimento, por assim dizer, tinham discursos embasados, empunhavam bandeiras e gritos de ordem mas em casa acabavam com as mãos no tanque esfregando cuecas. Mantinham casamentos infelizes para não ficar "sem marido", e outras ainda que procuravam nos casamentos a segurança financeira do futuro.
Minha mãe me ensinou com sua trajetória que os homens não são um inimigo a ser combatido. Ela poderia ter nos afastado do nosso pai com a separação. Seria considerado até natural. Afinal os filhos são das mulheres e aceitamos bovinamente que homens paguem pensão e mantenham-se a distância e até sumam. Ela preferiu ter meu pai por perto e com isso nós ganhamos um pai e meu pai uma oportunidade de crescer. (Hoje sei que o preço foi alto, meu pai não foi o ex-marido perfeito.)
Acho que é por isso que reações como a da Lola me incomodam tanto. Seriam os homens a encarnação do mal na terra?
Acredito que a responsabilidade de um mundo melhor, inclusive de homens melhores, é também das mulheres.
Nesse episódio especificamente. Quantas de nós, mães e mamíferas, que saímos em defesa do mamaço propusemos essa discussão entre os homens que nos cercam? E não estou falando apenas dos maridos, falo também dos nossos pais, irmãos, filhos, amigos.
Poucas. Tenho certeza que poucas.
Algumas me dirão: "Ah, mas o meu marido não entende dessas coisas" ou "Meu irmão é muito novo, nem dá pra falar com ele sobre isso."
Todas respostas prontas de quem considera os homens seres incapazes.
Eu não acho.
E acho mais: o mundo é tão das mulheres que está nas nossas mãos mudar os homens também.
Pra mim o mundo precisa muito mais, agora, do movimento feminino do que do movimento "feminista".
Tá passando da hora das mulheres pararem de reclamar dos homens e tomar atitudes pró-ativas. Eu falo isso muito também porque tenho a responsabilidade de deixar para o futuro um homem mais educado e consciente que atende pelo nome de Teodoro.
Por essas e outras razões que achei desproporcional a reação contra o CQC.
Chega de mimimi mulherada!
;-)